Postagens

Mostrando postagens de maio, 2025

CineSombra: Coraline ♥

Imagem
  Coraline e o Mundo Secreto (2009) O Olho da Sombra: Entre Portais e Botões   “ Coraline e o Mundo Secreto ” é uma obra-prima simbólica, mística e profundamente psicológica, que ultrapassa sua classificação de “animação infantil” para se revelar como um verdadeiro mito moderno sobre a individuação, a sombra e o feminino arquetípico . Baseado no livro de Neil Gaiman (2002), o filme “ Coraline ” foi lançado em 2009 , dirigido por Henry Selick (o mesmo de “O Estranho Mundo de Jack”), com estética stop-motion gótica. Coraline Jones é uma garota que se muda para uma nova casa com pais distantes e negligentes. Ao explorar sua nova residência, encontra uma pequena porta secreta que a leva a um mundo paralelo — quase idêntico ao real, mas mais colorido, agradável, onde seus desejos são atendidos. Lá, vive com a “ Outra Mãe ”, uma figura afetuosa que cozinha, brinca, e dá atenção... mas que tem botões no lugar dos olhos . Logo, Coraline descobre que esse mundo é uma arm...

Entre o Sono e o Despertar: o portal encantado nos contos de fadas

Imagem
  O sono, nos contos de fadas, não é mera pausa — é passagem. Um véu tênue que separa o mundo ordinário do extraordinário, o conhecido do misterioso, o concreto do simbólico. Quando uma personagem adormece, algo mais profundo está sendo invocado: uma travessia da consciência para além dos limites do eu. Nesse limiar onírico, habita o inconsciente, os desejos não ditos, as sombras e os encantamentos que desafiam a lógica diurna. Coraline, por exemplo, adormece em sua casa real — pálida, indiferente, sem cor — e desperta com o som sutil de um ratinho, símbolo da travessura e do segredo. Ao segui-lo, ela encontra uma pequena porta escondida na parede, que se abre para um túnel estreito. Há algo iniciático nessa travessia: ela engatinha, atravessa, e ao emergir, chega a uma realidade paralela onde tudo parece melhor. A comida tem gosto, os pais sorriem, os brinquedos falam. Mas há um preço. Como todo encantamento, essa perfeição é uma ilusão. Coraline dorme e acorda mais uma vez — e es...

A Outra Mãe e a Sombra Materna — Quando o Amor Vira Prisão

Imagem
  A Outra Mãe: a ilusão da perfeição emocional No início da narrativa, Coraline vive com pais distraídos, ocupados e emocionalmente distantes. Eles a alimentam, a vestem, oferecem abrigo — mas não a veem . A fome que Coraline sente não é por comida, é por atenção, presença e afeto emocional . E é justamente essa lacuna que abre o portal interior para que o arquétipo da Outra Mãe emerja. A Outra Mãe , no filme Coraline , aparece como uma figura ideal: doce, presente, carinhosa, talentosa na cozinha, atenta aos desejos não expressos da protagonista. Diferente da mãe "real", que está distante, cansada, mergulhada em obrigações e sem tempo para Coraline. No nível consciente , parece apenas uma fantasia compensatória. Mas no nível inconsciente , ela encarna um arquétipo ancestral: o anseio por uma mãe perfeita , por uma ligação simbiótica onde todos os nossos afetos seriam compreendidos e nutridos sem conflito, frustração ou limites. É aqui que a Outra Mãe se transforma de...

O Corvo: O Mensageiro da Sombra e Guardião dos Mistérios

Imagem
  Há aves que voam com o vento. Outras, com o presságio. O corvo, entretanto, voa com o segredo. Negro como a meia-noite sem lua, o corvo há séculos paira entre mundos. Nem totalmente da luz, nem da escuridão. Ele pertence ao limiar. E é ali — no espaço entre o visível e o oculto — que ele reina.   Símbolo de sabedoria ancestral Na antiguidade, antes que o olhar moderno o reduzisse ao sinistro, o corvo era respeitado como símbolo de sabedoria e de comunicação com o divino . Entre os celtas , era associado à deusa Morrigan , a grande senhora da guerra, da morte e do destino. Ela assumia sua forma para sobrevoar campos de batalha, recolhendo as almas dos mortos e prevendo o desfecho dos combates. Para os nórdicos , o deus Odin possuía dois corvos — Huginn (pensamento) e Muninn (memória) — que voavam pelo mundo e voltavam para sussurrar-lhe tudo o que haviam visto. Na mitologia grega , o corvo era inicialmente branco e ...